Acho muito curioso quando as mulheres que praticam abortos ou os indivíduos que defendem essa prática justificam-se usando o argumento de que “cada mulher é dona de seu próprio corpo” e, por isso, pode fazer o que quiser com ele. Esse é o argumento principal: já que o corpo é meu, tenho total soberania sobre ele. Isso incluiria o direito de aniquilar aquele ser humano que ali está alojado. Bem, existem algumas questões a serem consideradas sobre esse argumento.
Em primeiro lugar, biblicamente ninguém é dono de seu próprio corpo: seu dono é Deus, o autor da vida. Mas nao precisamos nem entrar pela teologia, até porque para um ateu esse argumento não tem nenhum valor, visto que não crê na Bíblia. Então caminhemos por outras veredas, como, por exemplo, o campo jurídico.
O argumento de que cada um é dono de seu próprio corpo mediante a lei é relativo. Quer ver? Quebre a lei. Cometa um crime. Você verá que quem vai decidir se seu corpo ficará trancafiado em uma cela por anos ou se ele terá o direito de continuar andando solto por aí será um juiz ou um júri – não você. Ou então complete 18 anos e veja se, salvo tendo você um bom pistolão, não será obrigado a levar seu corpo todos os dias, durante um ano, a um quartel, onde um militar qualquer vai obrigar seu corpo a fazer polichinelos e flexões, saltar obstáculos e coisas afins. Ou seja: mesmo que não estejamos falando em termos religiosos, a ideia de que seu corpo é propriedade exclusiva sua não passa de uma doce ilusão.
Tendo visto isso, chegamos à questão do aborto. Essa mesma ilusão leva milhares de mulheres a assassinar seus próprios filhos dentro de seus ventres, por achar que têm esse direito. A verdade, queira-se ou não, é que aquele indivíduo que está temporariamente dentro do corpo da mulher não faz parte do corpo dela. Nem de longe. Ou seja: mesmo que a teoria de que cada um seja proprietário de seu corpo fosse verdadeira, o ser humano que cresce dentro do organismo de uma grávida não faz parte do mesmo corpo. Ou seja, é apenas um inquilino, que está ali para se alimentar por nove meses até chegar a hora de enxergar a luz do sol. Por meio de um cordão umbilical, aquela pessoinha apenas se alimenta e se oxigena.
E é extremamente fácil provar que um feto não faz parte do corpo da mãe. Consideremos o DNA. Toda e qualquer célula do seu corpo, amigo leitor, carrega em si o mesmo DNA, ou seja, o mesmo código genético. Sejam células do cabelo, da bochecha, da pele, do duodeno ou do osso do calcanhar. Agora, compare o DNA de qualquer mãe com o DNA de seu filho e você descobrirá que são diferentes. O que prova que geneticamente o corpo da mãe e o corpo do filho são entidades essencialmente distintas.
Vamos além: tipo sanguíneo. O meu é A negativo. O de minha mãe não. Se o sangue de minha mãe correr dentro de minhas veias eu entro em colapso e morro. E isso ocorre porque o sangue que percorre meu corpo é diferente do de minha mãe, o que é mais uma prova de que somos entidades distintas.
Pensemos agora em um assunto não muito agradável, mas ilustrativo: amputações. Sempre que você amputa uma parte de seu corpo, alguma funcionalidade se perde. Se decepar a mão direita, sendo você destro, por exemplo, terá de reaprender a escrever. Se amputar uma de suas pernas dependerá de algum prótese ou muleta para poder caminhar. Já no caso do aborto, o corpo da mãe-hospedeira não perde nenhuma funcionalidade. Isto é, em termos meramente funcionais, a remoção da criança não altera em nada o funcionamento do organismo da mãe. Mais uma prova de que trata-se de um ser humano completamente independente.
Em resumo: abortar sob o argumento de que a mãe tem direito sobre seu próprio corpo é uma tremenda desculpa esfarrapada para desculpar o indesculpável. É uma justificativa capenga e sem o menor nexo religioso, jurídico ou biológico para justificar o injustificável. Por uma única razão: aquele corpinho que cresce lindamente dentro do corpo da mãe não faz parte do corpo dela, apenas extrai dela o que precisa até se tornar uma criatura autônoma. É um ser humano absolutamente à parte. Logo, a mãe não tem direito algum de assassiná-lo sob o argumento de que tem direito sobre seu próprio corpo.
Mas sou a favor do aborto
Porém, como eu disse no título deste artigo, sou a favor do aborto. Sou 100% a favor. Tornei-me a favor do aborto em 1996, quando Jesus me converteu. Mas, antes que você queira me apedrejar, preciso explicar que não estou me referindo ao abominável, desumano e bárbaro aborto de seres humanos. Me refiro a um aborto que tem de ser feito todos os dias, dia após dia, durante toda a vida. Pois dentro de meu corpo cresce uma entidade que não pertence a ele, um parasita que não compartilha do meu DNA, que não tem o mesmo sangue que eu mas que se alimenta de minhas fraquezas e paixões, crescendo mais e mais dentro de mim. E, se eu não fizer um aborto todos os dias, constantemente, extirpando de mim esse elemento maligno initerruptamente, ele vai acabar sugando de mim toda a vida e me condenando à morte.
Seu nome é pecado.
A entidade que cresce dentro de uma mulher é resultado de uma união, a união de dois seres que estabeleceram um relacionamento e isso gerou aquela vida. Já a entidade que cresce dentro de mim é resultado de uma separação, a separação de dois seres que tiveram uma quebra de relacionamento e isso gerou aquele parasita. Foi quando Adão rompeu seu cordão umbilical com Deus que isso fez com que todos os seus descendentes passassem a nascer com aquele tumor espiritual dentro de si. Um tumor maligno que envenena, distorce nossa natureza e nos tira a saúde espiritual que inicialmente o Senhor planejou para toda a humanidade.
O pecado, assim como um feto, começa pequeno, às vezes imperceptível, e, quanto mais de nossa natureza humana lhe concedemos, mais ele cresce, fortalecendo-se e agigantando-se. Contrariando minha natureza de filho de Deus. Tentando deformar-me e me transformar em algo de um aspecto quasimódico.
No caso do feto, é a mãe que lhe transmite todo tipo de elementos necessários ao seu desenvolvimento: nutrientes, oxigênio e tudo o mais que o fará crescer e viver. Já no caso do pecado, tudo de que ele precisa para crescer e sobreviver é que não o abortemos. Basta deixa-lo ali, tranquilo em seu canto, quietinho, pois o mero contato dele com nossa natureza humana já lhe dá todo alimento de que necessita. Só que, ao contrário da relação entre uma mãe e seu filho, em que ela é quem lhe transfere elementos, é o pecado quem transmite ao seu hospedeiro todo tipo de elementos nocivos: imoralidade sexual, fornicação, impureza, lascívia, idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, invejas, homicídios, bebedices, glutonarias e coisas semelhantes a essas.
Se o feto que vive dentro de uma mulher não for abortado, crescerá tanto que um dia, após nove meses, deixará seu corpo. Mas, no caso do pecado, se ele não for abortado crescerá tanto que um dia poderá chegar ao ponto de se enraizar no seu organismo a tal ponto que tomará conta de sua vida. E, assim, assumirá o controle. Os braços do pecado crescerão por dentro dos seus, as pernas dele se desenvolverão por dentro das suas, o coração do pecado tomará lugar do seu e você começará a pensar com o cérebro do pecado. Como num filme de terror em que um parasita alienígena implantado no corpo de uma pessoa assume aos poucos sua identidade, assim é com o pecado: se não o abortarmos o quanto antes, em breve nossa natureza regenerada e justificada será substituída pela natureza pecaminosa. É o que 1 Tm 4.2 chama de consciência cauterizada.
Essa é a explicação para quando um obreiro frauda o imposto de renda ou a contabilidade de sua empresa. Ou quando um pastor abandona sua esposa. Ou quando uma mulher de Deus se rebela contra a autoridade de seu marido. Ou quando cristãos sinceros enveredam pela política partidária e se deixam corromper. Ou quando um conselho de uma igreja trabalha com caixa dois. Ou quando liderados conspiram contra seus líderes. Ou quando líderes enxergam os membros de sua igreja mais como dizimistas do que como almas. Ou quando um cristão não honra com sua palavra ou seus compromissos. Ou quando um pastor rouba. Ou quando um homem espiritual passa um cheque sem fundos. Ou quando um filho criado na igreja se rebela contra seus pais. Ou quando denominações evangélicas desqualificam outras denominações. Ou quando nosso sim deixa de ser sim e nosso não, não. Em qualquer um desses casos e muitos outros simplesmente aquele pecado maldito não foi abortado enquanto ainda era tempo.
A boa notícia
Mas há uma boa notícia: nunca é tarde para praticar esse aborto. Se você identifica que esse tumor maligno chamado pecado infiltrou-se de tal modo no organismo da sua alma a ponto de te afastar de Deus, há um local onde esse aborto pode ser praticado de forma legalizada e livre de efeitos colaterais.
Chama-se joelho.
Prostre-se. Humilhe-se. Suplique. Rasgue seu peito ante o Senhor e confesse a Ele tudo o que intoxica sua alma. E isso numa conversa franca e sem medos. Busque junto ao Espírito Santo a libertação desse pecado que tanto te envenena. Nunca é tarde demais para isso. Seja lá qual for o pecado que assola a sua vida, você pode neste exato instante submeter-se a uma cirurgia espiritual que vai eliminar totalmente esse parasita infeccioso. E estou falando isso para cristãos, pois muitos de nós que amamos de verdade a Cristo e ao Evangelho diversas vezes deixamos certos pecados crescerem em nós, alimentados por nossas fraquezas e paixões. E para expeli-los precisamos desesperadamente de Jesus.
Sou a favor do aborto do pecado. Foi para realizar esse aborto que Jesus se fez carne e veio até nós, para fazer aquilo que o anjo disse a José em Mateus 1.21: “Ele salvará o seu povo dos seus pecados”. Afinal, como o próprio Cristo afirmou, “Não necessitam de médico os sãos, mas sim os enfermos; eu não vim chamar justos, mas pecadores” (Mc 2.17). Ainda há tempo de buscar socorro junto ao médico dos médicos. Para aqueles que assim não fizerem, o próprio Cordeiro de Deus, que veio para tirar o pecado do mundo, dá, em Jo 8.21, o terrível diagnóstico: “Morrereis no vosso pecado”. Você, querido leitor, sabe exatamente qual é o pecado que tem infeccionado a sua alma. Mas a boa notícia é que a cura está à disposição. Cabe a você optar: morrer no pecado ou vê-lo abortado de sua alma. O que vai ser?
Paz a todos vocês que estão em Cristo!
Por Maurício Zágari
Fonte: Apenas
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