Lembrem-se dos que estão na prisão, como se aprisionados com eles; dos que estão sendo maltratados, como se fossem vocês mesmos que o estivessem sofrendo no corpo. Hebreus 13.3.
Muitos cristãos no Brasil têm acompanhado e divulgado nas Redes Sociais a situação do pastor iraniano Pr. Yousef Nardakhani (34 anos). Organizações cristãs sérias que lutam pela causa dos cristãos perseguidos postam todos os dias em seus respectivos sites o drama vivido por um homem preso desde outubro de 2009, sentenciado a morte pelo governo de Teerã. A acusação formal: converter muçulmanos a fé cristã por meio da pregação.
A notícia se espalhou rapidamente pela web em várias partes do mundo. Aqui no Brasil, em pouco tempo, sites e blogs não-cristãos, porém defensores da liberdade religiosa e de expressão se pronunciaram. Recentemente, o Presidente do Senado Brasileiro recebeu um requerimento assinado por alguns senadores solicitando a libertação do pastor Youcef junto a Embaixada do Irã (leia mais).
Parece brincadeira, mas o que vou falar é coisa muita séria. Estima-se que menos de 3% dos evangélicos brasileiros estão por dentro dessa e outras situações extremas vividas por cristãos que vivem em outras partes do planeta. Isso é extremamente preocupante e sintomático. É o resultado de um percentual evangélico no Brasil cada vez mais crescente, porém ignorante, analfabeto de Bíblia, desconhecedor da história e espiritualmente insensível às necessidades do seu semelhante.
Você sabia que Asia Bibi (37 anos), uma cristã paquistanesa, mãe de quatro filhos, está presa desde julho de 2009. Ela foi condenada a morte por blasfêmia, simplesmente porque testemunhou da sua fé dizendo para seus colegas que queriam forçá-la a voltar para o islã as seguintes palavras: “Nosso Cristo sacrificou Sua vida na cruz por nossos pecados... Nosso Cristo está vivo”? Você sabia que na Eritréia muitos cristãos estão presos em “containers” em condições sub-humanas? De tão amontoados eles fazem escala para dormir em pé! Sem falar das necessidades fisiológicas, fome e sede. Por que razão eles estão presos? Eram muçulmanos, mas agora pertencem a Cristo. Helen Berhane que ficou conhecida no mundo todo por ter sido presa em um contêiner de metal na Eritréia por dois anos, foi presa sem qualquer julgamento ou acusação por seguir o cristianismo. Ela se encontra atualmente no Brasil divulgando o sofrimento dos cristãos de seu país.
Você sabia que no Vietnã, o Pastor Y Wo Nie foi preso em 18 de agosto de 2004, por liderar uma manifestação exigindo mais liberdade religiosa e a liberação dos bens confiscados pelo governo vietnamita? Ele foi condenado a passar nove anos na cadeia. Sua esposa só conseguiu conseguiu visitá-lo recentemente.
Lembrar-se dos que sofrem por causa de Jesus Cristo é uma determinação bíblica. Não é algo opcional como se troca de roupa ou muda de canal na TV. Deus ensina a seu povo muitos mandamentos. Todas as vezes que nos deparamos com eles somos exortados a viver em retidão e experimentarmos os valores do Reino dos Céus enquanto peregrinos neste mundo. Somos ensinados a amar o nosso Senhor de todo o coração, de toda a nossa alma, e de todo entendimento. Este é o primeiro grande mandamento (Mateus 22.37).
Contudo, Deus também nos ordena amar o nosso próximo como a nós mesmos. Este é o segundo e grande mandamento. Destes dois mandamentos disse o Senhor Jesus, depende toda a Bíblia. É interessante notar a maneira bíblica como o Senhor utiliza sua Lei Moral para pastorear o seu rebanho. Assim como um pai corrige com amor o seu filho, Ele nos adverte contra o pecado de esquecermos aquilo que deve ser primordial em nossa vida cristã.
Um exemplo claro disso é quando Ele usa o verbo “lembrar” atrelado a um mandamento específico. Ou você acha que o 4º Mandamento se inicia com um “lembra-te” por acaso? Deus sabia que somos verdadeiros mestres quando o assunto é autossuficiência, que facilmente nos esquecemos de que toda a dádiva e dom perfeito vêm lá do alto (Tiago 1.17).
As sábias palavras de Agur revelam uma oração que todos nós deveríamos constantemente fazer: “Duas coisas peço que me dês antes que eu morra: Mantém longe de mim a falsidade e a mentira; Não me dês nem pobreza nem riqueza; dá-me apenas o alimento necessário. Se não, tendo demais, eu te negaria e te deixaria, e diria: ‘Quem é o Senhor? ’ Se eu ficasse pobre, poderia vir a roubar, desonrando assim o nome do meu Deus” (Provérbios 30.7-9).
Agur orou ao Senhor e pediu: “Dá-me apenas o que eu necessito”. Ele sabia o grande perigo de se colocar o coração nas riquezas deste mundo. Sua convicção era que se ele tivesse demais, poderia negar e abandonar a Deus perguntando com toda arrogância: “Quem é o Senhor? Eu não sei de quem vocês estão falando”.
É justamente por isso que não lembramos com facilidade e frequência dos nossos irmãos perseguidos. Enquanto eles estão presos e sendo maltratados por sua fé, nós estamos muito ocupados com nossos prazeres e nossa plena satisfação em nós mesmos. Enquanto o Senhor diz: “Lembrem-se dos que estão na prisão, como se aprisionados com eles; dos que estão sendo maltratados, como se fossem vocês mesmos que o estivessem sofrendo no corpo”, nós estamos militando nos sindicatos por melhorias salariais, lutando pela causa dos animais abandonados, ou gastando tempo escrevendo bobagens nas redes sociais. Isso não é bom! É terrivelmente pecaminoso! É se esquecer de um mandamento em que Deus exige de seu povo extrema prioridade.
Somente nos importaremos com a parte sofredora do Corpo de Cristo, se nós redescobrirmos nele o sentido da nossa fé aplicada a uma vida dedicada à glória de Deus. Apenas experimentaremos o sofrimento daqueles que estão presos por não negarem sua fé em Cristo se nós compreendermos o real significado de viver e morrer para Cristo.
Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita: ‘Venham, benditos de meu Pai! Recebam como herança o Reino que lhes foi preparado desde a criação do mundo. Pois eu tive fome, e vocês me deram de comer; tive sede, e vocês me deram de beber; fui estrangeiro, e vocês me acolheram; necessitei de roupas, e vocês me vestiram; estive enfermo, e vocês cuidaram de mim; estive preso, e vocês me visitaram’. "Então os justos lhe responderão: ‘Senhor, quando te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e te demos de beber? Quando te vimos como estrangeiro e te acolhemos, ou necessitado de roupas e te vestimos? Quando te vimos enfermo ou preso e fomos te visitar? ’"O Rei responderá: ‘Digo-lhes a verdade: o que vocês fizeram a algum dos meus menores irmãos, a mim o fizeram’. Mateus 25:34-40
Texto publicado originalmente em http://bibliacomisso.blogspot.com/
*Alan Kleber é sergipano e pastoreia a Igreja Presbiteriana de Aracaju desde 2009.
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