Entendendo a festa de Corpus Christi


Corpus Christi é uma expressão latina que significa literalmente o Corpo de Cristo,  que pode se referir  a duas coisas distintas:  ao  corpo humano de Jesus e à Igreja, o corpo místico de Cristo.A festa católica de Corpus Christi  está vinculada ao corpo humano de Jesus e é uma espécie de segunda Páscoa. A base bíblica alegada para a festa é a palavra memória, ou festa em memória de Cristo, conforme  o Evangelho de Lucas: "E, tomando um pão, tendo dado graças, o partiu e lhes deu, dizendo: Isto é o meu corpo oferecido por vós; fazei isto em memória de mim. Semelhantemente, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este é o cálice da nova aliança no meu sangue derramado em favor de vós." (Lc 22.19-20). Segundo o entendimento generalizado das igrejas cristãs, há um significado metafórico do texto. Nos  300 primeiros anos da Igreja, a Eucaristia  era normalmente ministrada no primeiro dia da semana, o Dia do Senhor (Domingo) (cf. Ap 1.10). Ainda em época muito remota, que não  se pode  precisar, surgiu a idéia de se comemorar o aniversário da Eucaristia. Esta data comemorativa, certamente, teria que ocorrer na Semana da Páscoa ou Semana Santa. Por inferência bíblica e com base na tradição, a “Última Ceia” havia acontecido no quinto dia da semana (quinta-feira). Mas, o problema de datas tornou-se sério, pois a igreja estava se expandindo em uma sociedade romana, cujo calendário era diferente do judaico. 

 Assim, qual seria o dia inicial da Semana Santa? A ressurreição do Senhor e o Pentecostes haviam caído no primeiro dia da semana (Domingo), mas a Páscoa judaica continuava a ocorrer no dia 14 de Nisã, primeiro mês sagrado dos Judeus (cf. Ex 12.6), Estava tudo muito confuso quando, no ano 325,  em  Nicéia, entre ou seja, em qualquer dia da semana. outras coisas, ficou decidido que a Páscoa Cristã sempre cairia no domingo, fechando a Semana Santa. Era, inicialmente, uma festa alegre, pois comemorava a ressurreição de Jesus. A ressurreição do Mestre empolgava 
a jovem comunidade cristã, e havia certo sentimento coletivo de ânsia pela própria ressurreição. No contexto da Semana Santa, além do Domingo de Páscoa, ficou destacada a quinta-feira que antecedia a Páscoa, a Quinta-Feira Santa, em razão da última ceia de Jesus. Nessa data especial, passou-se a comemorar a Festa da Eucaristia. Durante cerca de 300 anos, esse foi o entendimento da Igreja Cristã, que, embora una, estava dividida em duas grandes áreas de influência geográfica: A Igreja Grega ou Oriental, liderada pelo Patriarca de Constantinopla; e a Igreja Romana ou Latina, chefiada pelo bispo de Roma, depois chamado Papa.  Em face da oficialização da Igreja no Império Romano,  por influência pagã,  começaram a surgir crenças e dogmas,  que aos poucos foram incorporadas à  doutrina da Igreja.  Um desses dogmas foi a convicção de que a  morte de Cristo  era  mais importante que sua Ressurreição. Logo, havia a necessidade de se colocar Jesus de novo na cruz e, assim, surgiu o crucifixo. Para que o sentimento de culpa e não de regozijo estivesse presente na Páscoa, durante a Quaresma, ou seja, os quarenta dias que antecedem a Páscoa, a palavra de ordem passou a ser: luto, tristeza, contrição, vergonha e dor. “Mea Culpa, Mea Maxima Culpa (minha culpa, minha imensa culpa)”, foi a fórmula introduzida na missa, como conseqüência e para justificar a nova postura litúrgica católica. Não havia clima para se festejar imediatamente após a morte de alguém, mesmo que seja sua ressurreição. O luto era mais importante.   As igrejas se tornaram túmulos de Cristo e precisavam ser grandes, não para caber muita gente, mas porque ali estava enterrado o Rei dos Reis, o Senhor dos Senhores.  No centro das principais cidades, em algumas igrejas mais antigas, no final da nave (corredor central), no lado esquerdo, pouco antes do Santuário, há um nicho com o corpo de Cristo. É só verificar. Por outro lado, a partir do século VII, começou a surgir a idéia de que, na Eucaristia, havia uma presença real de Cristo no pão, ou seja, o pão se transformava no corpo de Cristo.

Essa doutrina foi aprimorada pelos teólogos escolásticos, entre os séculos XIII a XV, e recebeu o nome de Transubstanciação.Por influência direta da citada doutrina eucarística e para referendar uma festa realizada, a partir de 1246, por ordem do bispo de Liège, na França, em homenagem à presença real de Cristo na Eucaristia, em 1264, o papa Urbano IV emitiu uma bula instituindo a Festa de Corpus Christi, que seria comemorada na quinta-feira, após o Domingo da Santíssima Trindade (que se segue ao Pentecostes), ou seja, 8 semanas depois da Páscoa. Vivemos em um país que, embora desfrute de liberdade religiosa, está associado à Igreja Católica, que é uma espécie de Igreja Oficial, sem o rótulo de oficial.  É possível  que essa situação perdure por tempo indeterminado. Cabe, contudo,  às  lideranças evangélicas  um firme posicionamento sobre o assunto, de modo que festas específicas de um grupo religioso, mesmo que majoritário, não sejam impostas à totalidade do povo brasileiro. 

Autor: José Roberto Costanza, professor de História Eclesiástica do 
Seminário Teológico Presbiteriano Rev. Ashbel Green Simonton. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário